Avaliação de Língua Portuguesa: crônica, tipos de predicado, homônimos e parônimos.
Leia com
atenção a crônica a seguir e responda
às questões de 1 a 5.
Os namorados da
filha
Quando a filha
adolescente anunciou que ia dormir com o namorado, o pai não disse nada. Não a
recriminou, não lembrou os rígidos padrões morais de sua juventude. Homem
avançado, esperava que aquilo acontecesse um dia. Só não esperava que
acontecesse tão cedo.
Mas tinha uma exigência, além das clássicas recomendações. A
moça podia dormir com o namorado:
─ Mas aqui em casa.
Ela, por sua vez, não protestou. Até ficou contente. Aquilo resultava em
inesperada comodidade. Vida amorosa em domicílio, o que mais podia desejar?
Perfeito.
O namorado não se mostrou menos satisfeito. Entre outras razões, porque
passaria a partilhar o abundante café da manhã da família. Aliás, seu apetite
era espantoso: diante do olhar assombrado e melancólico do dono da casa,
devorava toneladas do melhor requeijão, do mais fino presunto, tudo regado a
litros de suco de laranja.
Um dia, o namorado sumiu. Brigamos, disse a filha, mas já estou saindo com
outro. O pai pediu que ela trouxesse o rapaz. Veio, e era muito parecido com o
anterior: magro, cabeludo, com apetite descomunal.
Breve, o homem descobriria que constância não era uma
característica fundamental de sua filha. Os namorados começaram a se suceder em
ritmo acelerado. Cada manhã de domingo, era uma nova surpresa: este é o
Rodrigo, este é o James, este é o Tato, este é o Cabeça. Lá pelas tantas, ele
desistiu de memorizar nomes ou mesmo fisionomias. Se estava na mesa do café da
manhã, era namorado. Às vezes, também acontecia ─ ah, essa próstata, essa
próstata ─ que ele levantava à noite para ir ao banheiro e cruzava com um dos
galãs no corredor. Encontro insólito, mas os cumprimentos eram sempre gentis.
Uma
noite, acordou, como de costume, e, no corredor, deu de cara com um rapaz que o
olhou apavorado. Tranquilizou-o:
─ Eu sou o pai da Melissa. Não se preocupe, fique à vontade. Faça de conta que
a casa é sua.
E foi deitar.
Na manhã seguinte, a filha desceu para tomar café. Sozinha.
─ E o rapaz? ─ perguntou o pai.
─ Que rapaz? ─ disse ela.
Algo lhe ocorreu, e ele, nervoso, pôs-se de imediato a checar a casa. Faltava o
CD player, faltava a máquina fotográfica, faltava a impressora do computador. O
namorado não era namorado. Paixão poderia nutrir, mas era pela propriedade
alheia.
Um único consolo restou ao perplexo pai: aquele, pelo menos, não fizera estrago
no café da manhã.
Moacyr Scliar -
Crônica extraída da Revista Zero Hora, 26/4/1998, e contida no livro Boa Companhia: crônicas, organizado por
Humberto Werneck, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, 2. reimpressão, pp.
205-6.)
1)
Releia a afirmação a
seguir:
“Ao criar uma
crônica narrativa baseada em um fato cotidiano, o autor do texto rompe com o
circunstancial, com a realidade.”
Explique como esse fato
ocorre na crônica “Os namorados da filha”.
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2)
Preencha o quadro
abaixo, de acordo com a crônica lida.
Personagens |
|
Espaço |
|
Temática |
|
Tipo de narrador |
3) Seguindo a estrutura do texto narrativo, numere os parênteses de acordo com
a sequência abaixo.
( 1 ) Situação inicial
( 2 ) Conflito ( 3 ) Clímax ( 4 ) Desfecho
( ) O sumiço do namorado e a descoberta da inconstância da filha.
( ) O pai descobre que o rapaz no corredor era ladrão e não namorado.
( ) A filha comunica ao pai que vai dormir com o namorado.
( ) O encontro no corredor entre o pai e o rapaz.
4)
Por
que o pai da jovem era realmente um homem avançado?
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5)
Em
relação ao texto, a atitude do pai teve boas consequências? Justifique.
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6)
Compare os
predicados destas duas orações.
I-
As paredes da
casa, logo após a pintura, já estavam manchadas.
II-
As paredes da
casa, logo após a pintura, já apresentavam manchas.
Eles
têm a mesma classificação? Justifique.
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7)
Compare as
duas frases e, a seguir, identifique
as afirmações verdadeiras e as falsas.
I-
Os invasores
deixaram destruída a cidade.
II-
Os invasores
deixaram a cidade destruída.
a)
( ) Nenhuma das duas frases é ambígua.
b)
( ) Em I, deixaram
significa “tornaram”, “fizeram ficar”.
c)
( ) Em II, deixaram
pode significar “tornaram” ou “foram embora”.
d)
( ) Em I, entende-se que a cidade, em
consequência da ação dos invasores, passou a ter uma característica nova.
e)
( ) Em I, destruída
é adjunto adnominal.
f)
( ) Em II, destruída
pode ser adjunto adnominal (característica constante) ou predicativo do objeto
(característica circunstancial), dependendo do sentido que se atribuir ao verbo
deixar.
g)
( ) Tanto I como II são frases sintaticamente
bem organizadas.
8)
Sabe-se que o bom
funcionamento do coração de uma pessoa relaciona-se às condições físicas,
psicológicas e emocionais a que ela está sujeita em sua vida cotidiana. Levando
em consideração esse fato, compare
estas frases:
I-
O comerciante
entrou preocupado no banco.
II-
O comerciante
preocupado entrou no banco.
a)
Apresente a
função sintática do termo preocupado
em cada frase.
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b)
Infira: qual
desses dois comerciantes corre maior risco de ter um ataque cardíaco? Justifique sua resposta.
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9)
O
diálogo a seguir contém humor e retrata uma crítica ligada aos fatos sociais. Recorra aos seus conhecimentos sobre as
relações de significado estabelecidas entre as palavras e responda ao que se
pede.
- Pai, qual é a diferença entre infração
e inflação?
-
Bem, infração é quando alguém sabe
que cometeu um erro e... É punido!
-
E inflação?
-
Bem, aí é quando ninguém sabe quem cometeu um erro e... Todos são punidos!
a) A explicação dada pelo pai em resposta ao questionamento
do filho está correta? Explique.
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b) Apresente a
crítica implícita no discurso retratado.
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