Leia, com atenção, o texto a seguir.
Minha vida de menina
Durante minha vida em Graça sempre fui uma garota
agitada. Lembro-me de que eu e minha melhor amiga gostávamos de passear pelo
mercado municipal recém-construído, mas muito diferente do de hoje: o teto era
feito de palha, sustentado por um tronco enorme. Passeávamos por lá por não
haver outra opção e também para paquerarmos os meninos.
Nascemos quase juntos: eu
e o mercado. Somos uma coisa só, mas não estamos nos livros, televisão ou
qualquer documento. Estamos na memória que marcou minha adolescência. Às vezes
sinto saudades daqueles tempos, quando tudo era mais tranquilo, não havia quase
motos ou carros nas ruas.
Ao chegar em casa, ajudava minha mãe a fazer chapéu. A palha utilizada cortava
meus dedos, mas era a única forma de ajudar na renda familiar, garantindo
dinheiro para, quando chegassem os festejos, comprar tecido para fazer os
vestidos.
Estudava à tarde com a
professora Iracy, mestra muito severa. Minha mochila era um saco de arroz, em
que levava um lápis, a cartilha do ABC e uma tabuada. Meu pai me colocou na
escola, e meus irmãos também, para aprendermos a ler uma carta e fazer outra.
Eu era craque na leitura e não gostava da tabuada, mas estudava muito para não
apanhar de palmatória. Nunca apanhei da professora, pois ficava bem quietinha.
Durante o recreio, ela
mandava-nos capinar o mato que crescia ao redor da escola, tarefa que julgava
enfadonha, pois minhas mãos às vezes inchavam.
Quando chegava da escola
já era quase hora do jantar. Comíamos feijão com farofa de toucinho. O gosto não
era bom, mas de tanto comer já havia me acostumado. Raramente comíamos carne ou
biscoito, e só tomávamos refrigerante quando caíamos doentes.
Nas festas não havia
bebidas alcoólicas, só o arico-rico – suco industrializado em pó colocado em
garrafas –, que tinha que ser dividido com os amigos, proporcionando momentos
de alegria e confusão.
Apesar das secas, minha
família nunca passou fome, pois meu pai criava capotes e cabras; por esse
motivo não nos faltava leite. Raramente chovia, mas quando acontecia era o
maior alvoroço! Todos corriam em busca de baldes para armazenar água e eu ainda
brincava com as outras crianças na chuva. A água que caía do céu era
fresquinha, contrastando com a terra quente, e quando se misturavam produziam
uma fumaça que causava um clima de mistério. A forte chuva formava um pequeno
lameiro, que, misturado à terra, parecia um rio de chocolate. A magia da água
tocando o meu rosto era muito forte. Nessas horas o trabalho era esquecido.
Naquele tempo, a chuva
era a maior alegria e a rua transformava-se em um mundo fantástico. Além das
brincadeiras no lamaçal que escorria pela rua, modelávamos panelinhas de barro
para brincar de comidinha, fazíamos bonecos de sabugo de milho ou casca de melancia,
construíamos casinhas e redes de palha para pastorar o roçado...
Quando não chovia era uma
tristeza de dar dó, não havia mais a magia e sobrava tempo para brincar pela
manhã. Então, eu e a minha turma nos reuníamos nas casinhas de palha. Lá
construíamos brinquedos, conversávamos, fazíamos comidinhas de frutas e
inventávamos
histórias cheias de mistérios e paixões.
Nossa vida se enchia de
alegria, que vinha de muitos momentos: das brincadeiras, da escola, da família
e de quando chovia. O fim da história? Não sei, porque ainda vivo. Enquanto
viver, minhas memórias nunca irão acabar.
(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Maria Nonata de Abreu, 58
anos.)
1)
O texto lido é do
gênero:
a)
carta
b)
diário pessoal
c)
memórias
literárias
d)
narração
2)
Que fato é
relatado no texto lido?
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3)
Para fazer uma
boa descrição é importante reparar no “ser” descrito como se o olhássemos pela
primeira vez. Devemos trazer à lembrança sensações, impressões e informações
captadas pelos nossos sentidos: cheiros, sabores, formas, cores, texturas,
sons. Transcreva do texto lido um trecho em que o autor utiliza a descrição
como recurso para envolver o leitor e fazê-lo imaginar o que se apresenta.
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4)
Assinale a opção
em que se apresentam sentimentos e impressões do narrador.
a)
“Ao chegar em
casa, ajudava minha mãe a fazer chapéu.”
b)
“Minha mochila
era um saco de arroz, em que levava um lápis, a cartilha do ABC e uma tabuada.”
c)
“Naquele tempo, a chuva era a maior alegria e
a rua transformava-se em um mundo fantástico.”
d)
“Quando chegava
da escola já era quase hora do jantar. Comíamos feijão com farofa de toucinho.”
5)
No fragmento “Nas festas não havia bebidas alcoólicas,
só o arico-rico – suco industrializado em pó colocado em garrafas – que tinha
que ser dividido com os amigos, proporcionando momentos de alegria e confusão.”,
os travessões foram utilizados para:
a)
inserir a fala de
um personagem.
b)
introduzir uma
explicação.
c)
dirigir-se ao
leitor.
d)
apresentar uma
lembrança.
6)
Em que tempo
estão os verbos em sua maioria no texto? Por que o autor usou esse tempo
verbal?
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7)
Analise o
seguinte fragmento:
“Durante
o recreio, ela mandava-nos capinar o mato que crescia ao redor da escola,
tarefa que julgava enfadonha, pois minhas mãos às vezes inchavam.”
a) O pronome ela
se refere a quem? ____________________________________________________________
b) E o pronome nos
em “mandava-nos”?
________________________________________________________
c) Pelo contexto em que foi utilizada, explique o sentido
da palavra enfadonha.
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8) O texto traz palavras e expressões que situam o leitor
no tempo passado. Circule no texto uma dessas expressões.
9) Complete a partir do que foi estudado em aula: O
narrador usa a __________________ pessoa para contar as lembranças da
entrevistada.
10) Em “Nessas horas o trabalho era esquecido.”, o pronome
essas + o substantivo horas retomam algo que foi apresentado
anteriormente, fazendo a ligação entre as ideias. O que é retomado por “nessas
horas”?
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11) Que recurso o autor utilizou para finalizar seu texto?
a) O autor fez questionamentos a respeito de sua vida.
b) O autor deixou o leitor intrigado no final.
c) O autor retornou ao momento presente, atual.
d) O autor fez uma reflexão emocionante.
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